São Paulo abrigará de 25 a 27 de novembro o State of the Map Latam, encontro anual de mapeadores e usuários do OpenStreetMap em toda a América Latina. Organizado pela própria comunidade que produz e atualiza o mapa mundial aberto e livre, o evento será um espaço para debates sobre dados abertos, georeferenciamento de informações, uso de novas tecnologias e aplicativos e construção de bens públicos digitais. A programação ainda não está definida, mas no site do evento já é possível se inscrever e garantir uma vaga (as atividades são todas abertas e gratuitas, mas há limitação do número de inscritos.
Trata-se da segunda edição do encontro. A primeira aconteceu em setembro de 2015 no Chile. As atividades, que incluem workshops sobre mapeamento, palestras e painéis, além de mapatonas, acontecem em dois locais distintos na região central de São Paulo. Nos dias 25 e 26, serão na Biblioteca Mário de Andrade, e, no dia 27, no Mobilab, laboratório de mobilidade urbana mantido pela Prefeitura de São Paulo.
O OpenStreetMap é um mapa colaborativo aberto criado e mantido por diferentes comunidades de todo o planeta, por meio de uma estrutura radicalmente democrática e transparente. Tem como princípio básico o compartilhamento livre de informações, permitindo acesso sem custo a informações sobre a geografia e localização de diferentes países e regiões.
A poluição do ar é um dos problemas de saúde mais graves dos nossos tempos. Embora invisíveis, pequenas partículas de poeira – 2,5 micrômetros de diâmetro – são consideradas a quarta maior causa de morte em todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde estima que doenças respiratórias são responsáveis por 2,9 milhões de mortes por ano.
No entanto, apesar da gravidade do problema, conseguir informações precisas e localizadas sobre a qualidade do ar é difícil, se não impossível. Mesmo quando fornecidos por governos ou pesquisadores, os dados tendem a representar grandes ambientes, em vez de locais específicos. Na cidade São Paulo, como mostram informações da plataforma OpenAQ, existem 19 estações de monitoramento e apenas 9 delas realizam as medições do material particulado 2.5 (PM 2.5).
Com isso em mente, o Código Urbano trabalhou nos últimos 18 meses com a rede Earth Journalism Network (EJN) para experimentar o uso de sensores de baixo custo para identificar problemas de poluição do ar em São Paulo. A EJN, projeto da ONG Internews tem trabalhado ao longo dos últimos três anos para envolver pesquisadores e líderes de tecnologia social em lugares como Ulan Bator (Mongólia ), Jacarta (Indonésia) e São Paulo. Em parceria com o engenheiro Matthew Schroyer, a EJN desenvolveu o DustDuino, um sensor de partículas que utiliza um microprocessador Arduino adaptado para enviar dados de qualidade do ar em tempo real para a internet.
O vídeo abaixo conta mais sobre o conceito do projeto e a implementação em São Paulo.
Em abril de 2014, com o apoio do Feedback Labs, o Código Urbano se juntou ao “Make Sense”, um consórcio para testar a hipótese de que sensores de baixo custo poderiam ser usados para melhorar a capacidade de resposta à poluição do ar. Um conjunto diversificado de parceiros – incluindo Frontline SMS, SimLab, a Iniciativa Ground Truth e Development Seed – foram mobilizados para contribuir para a criação de uma rede de sensores piloto em SP.
Nos 18 meses seguintes, os parceiros projetaram e fabricaram um protótipo do DustDuino e desenvolveram o site OpenDustMap.com para exibir leituras dos dispositivos. Além disso, um manual para o uso do sensor foi escrito.
Ao implantar o DustDuino em São Paulo, a equipe foi capaz de testar a qualidade dos dados produzidos e também a distribuição de dados através de mensagens SMS e mapas interativos na web. Houve um enorme interesse entre os jornalistas, programadores, ONGs, funcionários municipais e outras partes interessadas. Ao todo, conseguimos distribuir 12 sensores ao redor da cidade e conectá-los em tempo real com nosso mapa interativo.
As lições aprendidas durante o projeto agora estão documentadas em um relatório de autoria de Erica Hagen da iniciativa Ground Truth. Este documento de aprendizagem foi criado através de entrevistas com cada um dos parceiros do consórcio e descreve detalhadamente as nossas estratégias para lidar com problemas comuns a projetos de internet das coisas, tais como o envolvimento do usuário, opções de conectividade, processos de fabricação e os atuais desafios na coleta de dados relevantes.
Além da obtenção de dados confiáveis, um dos objetivos-chave na criação e implantação de sensores foi gerar uma comunidade de usuários que pode tornar a rede eficaz. Por isso com apoio do Garoa Hacker Clube organizamos encontros e workshops para distribuir sensores e treinar pessoas em como usá-los.
Apesar do grande interesse por parte do público, os desafios de lidar com essa nova tecnologia não puderam ser superados durante o projeto-piloto. O objetivo final é proporcionar uma utilização fácil e barata dos sensores para permitir a cientistas-cidadãos e comunicadores informar com precisão os problemas da poluição do ar. Mas não chegamos lá ainda. Usar os DustDuinos ainda requer um certo nível de habilidades de programação.
“O projeto fez alguns progressos na criação de um protótipo de sensor confiável de qualidade do ar; sobre como organizar a produção em massa, solucionar problemas de software e hardware; realizar a integração com a API do Frontline SMS e uma integração do back-end com a exibição de dados no front-end do OpenDustMap.com”, Hagen conclui no relatório.
“O projeto também tem feito progressos em direção à obtenção de dados estruturados confiáveis e precisos a partir dos sensores e produziu uma extensa documentação que irá permitir uma maior experimentação. No final, entretanto, o consórcio ainda não foi capaz de testar com sucesso o potencial da tecnologia de sensores para o monitoramento por pessoas e comunidades mais afetadas pela degradação ambiental.”
Em 2016, o Código Urbano segue sua parceria com a Earth Journalism Network para aumentar a quantidade dos sensores DustDuinos instalados em São Paulo, bem como melhorar a precisão e qualidade dos dados sobre poluição do ar coletados. Leia também Primeiro sensor independente para monitorar poluição é instalado em SP
Na tarde desta quinta-feira (25/02) está prevista a segunda votação da nova Lei de Zoneamento da cidade de São Paulo, o Projeto de Lei (PL) 272/2015. Entre os temas em discussão que devem ser decididos nesta tarde, está a proposta de se permitir a construção de equipamentos públicos em áreas verdes públicas, incluindo parques. A Prefeitura de São Paulo, que apresentou o projeto, argumenta que esta seria uma forma de abrir espaço para a construção de creches e postos de saúde em áreas periféricas. Pela proposta, a instalação de equipamentos públicos seria em no máximo 40% da área dos terrenos e estaria condicionada à comprovação da necessidade nas regiões específicas, e seria acompanhada de: implantação de área verde pública com metragem equivalente no mesmo distrito ou subprefeitura; ou o que a Prefeitura chama de “qualificação ambiental de área pública municipal já existente”, com aumento da permeabilidade; ou destinação de contrapartida financeira ao Fundo Municipal de Parques.
A proposta de se permitir construções em áreas verdes públicas provocou críticas de ambientalistas e vereadores de oposição, que consideram que áreas de mananciais e preservação ambiental podem acabar comprometidas pelo projeto. A possibilidade de se compensar construções com recursos financeiros é especialmente preocupante, já que, na prática, significa uma redução das áreas verdes – mesmo considerando que o dinheiro seria revertido para o Fundo Municipal de Parques. O tema é especialmente sensível em um cenário em que a impermeabilidade excessiva do solo decorrente da cobertura de asfalto e cimento fragiliza as bacias hidrográficas, levando a escassez de água e, ao mesmo tempo, alamentos na cidade. A Prefeitura alega que “as áreas de preservação ambiental serão rigorosamente conservadas, e não há previsão de qualquer flexibilização da legislação ambiental”.
Com o intuito de contribuir com a discussão o Código Urbano mapeou terrenos ainda não ocupados na cidade, muitos dos quais em áreas periféricas. O levantamento foi feito a partir de informações do Geosampa, o sistema de informações georeferenciadas da Prefeitura de São Paulo, que trabalha com informações da base do IPTU da cidade. A partir da raspagem automática desses dados feitas por um robô, foi possível identificar a existência de pelo menos 4 milhões de metros quadrados de terrenos livres que poderiam ser utilizados para construção, sem contar edificações sem uso.
O mapa abaixo mostra terrenos com mais de 10 mil metros quadrados na cidade, de acordo com a base da Prefeitura. Clique nos terrenos para ver detalhes:
Terrenos privados As informações indicam que há muitos terrenos vazios subaproveitados em áreas carentes de equipamentos públicos. O problema é que, para que eles sejam ocupados por escolas, creches, postos de saúde e estruturas similares, teriam que ser desapropriados, já que a maioria encontra-se nas mãos de grupos privados. Agrupando os dados por proprietários, observamos a participação de incorporadoras, empresas e também pessoas físicas, incluindo aí:
Eletropaulo: 468 mil m2;
Flora Desenvolvimento Imobiliário Ltda: 136 mil m2;
Gazal Zarzur: 98 mil m2;
Esso: 97 mil m2;
MRV Engenharia: 85 mil m2
George Luiz Esteve: 85 mil m2;
Indústrias Matarazzo: 80 mil m2;
Brookfield, com 73 mil m2
Manfred Reimar Von Schaaffhausen: 50 mil m2;
Raphael Jafet Junior: 52 mil m2;
Gafisa: 40 mil m2;
Uma prévia de dados de imóveis com área acima de 10.000 metros quadrados identificados neste levantamento inicial encontra-se disponível para baixar aqui. Além de mapear espaços que poderiam ser ocupados, o trabalho também permitiu identificar falhas no cadastro de IPTU da cidade. O georeferenciamento das informações permite visualizar que há imóveis que, apesar de estarem cadastrados como terrenos livres, estão ocupados por edificações.
Baixe os dados É possível verificar cada ponto identificado no mapa diretamente no sistema GeoSampa, no site da Prefeitura de São Paulo. Disponibilizamos, além da visualização, um repositório com os dados brutos (aqui), onde é possível pesquisar qual o setor, quadra e lote de cada terreno. Com essas informações, dá para confirmar cada dado diretamente no site do Geosampa – é só clicar na lupa do lado esquerdo, selecionar a aba de IPTU e digitar os valores.
O resultado é apresentado no seguinte formato:
A ONG Minha Sampa, uma das organizações críticas a essa mudança prevista no projeto de lei, promoveu um abaixo-assinado para pressionar a Câmara. Também é possível consultar e questionar diretamente os vereadores sobre o projeto e, neste domingo, dia 28, participar de uma aula pública sobre Direito à Cidade que o Instituto Pólis realiza na Avenida Paulista.
* Texto atualizado na manhã desta quinta-feira, dia 25, com inclusão de links e mais informações sobre o projeto em discussão.
É fácil, simples e rápido mapear os lugares acessíveis para cadeirantes do seu bairro. Graças a um aplicativo baseado no OpenStreetMap (OSM), mapa mundi aberto e colaborativo, dá para indicar quais lugares são completamente (verde), parcialmente (amarelo) ou não acessíveis (vermelho) para quem está em uma cadeira de rodas. Basta acessar o Wheelmap.org e clicar nos botões cinzas que representam os estabelecimentos ainda não classificados, escolhendo as cores mais adequadas para indicar a acessibilidade do local para cadeirantes. Dá para fazer isso pelo celular (versões para Android, IOS e Windows Phone).
O aplicativo foi criado em 2010 na Alemanha e até setembro de 2015 já havia ajudado a catalogar mais de 510 mil estabelecimentos. No país, existem cidades com um mapeamento muito bom, com mapas realmente úteis para quem utiliza uma cadeira de rodas para se deslocar. É o caso de Berlim:
O mapa nada mais é do que um sistema que permite não apenas visualizar de maneira clara e direta as informações sobre acessibilidade contidas no OpenStreetMap, como também inserir ou modificar dados. Além de fazer consultas por tipos de comércio, também dá para indicar detalhes específicos de cada local, como presença ou não de banheiros acessíveis, por exemplo.
Ao navegar, vale aproximar o zoom para visualizar detalhes de diferentes áreas, localizando mais estabelecimentos que não aparecem de longe. No Brasil, ainda são poucos os que foram coloridos e a maioria dos mapas é praticamente toda cinza. Em São Paulo, na região de Pinheiros, por exemplo, onde há muitos comércios mapeados, pouquíssimos estão classificados.
O mesmo vale para a vizinhança da praia de Copacabana no Rio de Janeiro:
Na versão em outras línguas que não alemão ou inglês, o site trava de quando em quando e apresenta algumas falhas, como trechos não traduzidos. Mas a iniciativa merece atenção.
Direitos iguais e a lei A Constituição Federal determina que todas as pessoas, portadoras de necessidades especiais ou não, têm direitos iguais. Tal preceito foi reforçado pelo Decreto nº 5.296/2004, e pelas leis 10.048/2000 e 10.098/2000, que regulam e estabelecem critérios para o atendimento, mobilidade e acesso. Se você tem um comércio, deve torná-lo acessível para todas as pessoas, incluindo cadeirantes.
Mapeamento aberto e ativo A frente de abertura de dados e desenvolvimento de tecnologias livres Código Urbano apoia, desde o seu lançamento, a construção e fortalecimento de mapas livres. A primeira atividade realizada por este projeto, em janeiro de 2015, foi uma mapatona para ajudar no mapeamento livre de infraestrutura cicloviária. Depois disso, publicamos guias sobre como mapear infraestrutura cicloviária, e como nomear ruas a partir de mapas do IBGE.
O esforço de conhecer e melhorar as cidades tem grandes aliados ainda pouco explorados. Um deles certamente é o mapeamento colaborativo. Para além do aspectos técnicos de como realizar o levantamento de dados e a compilação deles no Open Street Maps (OSM), um aspecto fundamental está no prazer de somar-se a um esforço coletivo global de milhões de pessoas em mapear o planeta.
Organizada pela Código Urbano, a primeira maratona de mapeamento de infraestrutura cicloviária da cidade de São Paulo (Mapatona) aconteceu em 18 de janeiro de 2015. Como era de se esperar, estavam presentes quem pedala por prazer, esporte ou que nem ao menos pedala, mas quer uma cidade mais amigável à bicicleta.
Como bem ressalta a equipe da Código Urbano, dentro do processo de mapeamento oficial da infraestrutura cicloviária de cidade, houve progresso. Um mapa de ciclorrotas chegou a ser feito, com base em um levantamento de caminhos cicláveis, alguns deles tendo inclusive sido sinalizados. O problema é que esse conhecimento não pôde ser usado em outras plataformas além do papel, ou um arquivo fechado em formato PDF. Atualmente o que se tem consolidado para a circulação de bicicletas está organizado na plataforma Google, um dado público entregue a uma empresa privada, mas ainda assim visualizável e editável de maneira mais fácil.
Um mapeamento mais completo capaz de corrigir distorções só é possível de ser feito através de uma comunidade de pessoas engajada e comprometida. Foi essa primeira pedalada dada na Mapatona.
Nas ciclovias de São Paulo, por exemplo, é possível pensar em identificar quais são as vias de mão dupla e quais não são, uma informação básica, mas que não está disponível no mapa oficial. Ou ter um mapa dos buracos e obstáculos, facilitando para o próprio poder público a identificação dos trechos que precisam de reparos e melhorias. Ou identificar subidas.
É hora de aproveitar o momento de abertura da administração municipal, consolidar o que já foi feito, cobrar melhorias, trazer um diagnóstico da cidade da perspectiva de quem pedala. Um intercâmbio entre as ruas e os gabinetes através de um esforço público. Transparência é o conceito chave e o primeiro passo é ter os dados expostos para quem tiver interesse em conhecer.
São provocações e pressões ativas na melhoria institucional dos órgãos de execução e gestão do poder público através de uma sociedade civil que zela e defende seus interesses dentro de um modelo de participação cidadã do século XXI.
Ações individuais são fundamentais, mas sem o amparo de um pensamento e engajamento coletivo, os esforços individuais tendem a se transformar em disputas destrutivas. A colaboração transparente de diversos atores é portanto a base de uma nova e necessária democracia. Em tempos de crise de representatividade, é preciso deixar de lado os líderes mágicos e agregar esforço para fortalecer instituições. Justamente por isso, o fortalecimento de uma plataforma de mapeamento é portanto um esforço de consolidação democrática do Brasil.
Para além da fronteira municipal da paulicéia pedalável, a contribuição ao mapeamento colaborativo pode ser feita em qualquer local do planeta. Cidade, campo, bairros consolidados ou comunidades precárias.
A receita de bolo é, não necessarimente nessa ordem, ou em qualquer ordem de acontecimentos:
fazer um cadastro no Open Street Maps,
consultar a plataforma Wiki, em especial o conteúdo sobre bicicletas
Traduzir os textos do Inglês na página Wiki do OSM (?)
Editar o mapa para incluir o que falta,
Sair a campo para refazer traçados (?)
Fazer um levantamento fotográfico colaborativo através do Mapillary.
Como grande vantagem em qualquer plataforma colaborativa, está o fato de que toda contribuição, por menor que seja, é relevante.
Um pequeno exemplo do potencial de um cidade mapeada por ciclistas
Toda reivindicação em relação ao poder público ganha força com o uso de imagens. A solução encontrada para o estacionamento de ambulâncias de um hospital privado no espaço público das ruas foi certamente inadequada para o melhor interesse dos ciclistas.
Ainda assim, é possível também inspirar o mundo através de um passeio em bicicleta.
Façamos o mapeamento, por cada vez mais infraestrutura de qualidade com mais pessoas em bicicleta mais vezes.